O inseto friorento e o vento feral: um romance em contos nos rastros do mais latino-americano realismo mágico
O que Dostoievski andou fazendo um dia depois do falso fuzilamento?
Que tem isso a ver com o bobo que matava rainhas?
E que tem a ver o bobo com o avião que deslizou no gelo terra adentro?
E que tem a ver o avião com a gente isolada de Cativak da Encosta?
E que tem a ver Cativak com o menino que acompanhou o pai na caçada?
E que tem a ver a caçada com o ponta que o goleiro matou?
Tudo a ver, sim, porque não é à toa que O inseto friorento e o vento feral junta essas e outras histórias. É em razão de terem entre si dois tipos de interligação. Às vezes é o tema que se repete. Às vezes são palavras e expressões. Vão-se tecendo assim as recorrências que tornam o livro um só entrelaçado.
E o leitor nem precisa se dar conta disso. Porque ele tem duas maneiras de ler a obra: como um romance cheio de personalidade, que constrói sua unidade à própria maneira, ou como um conjunto de relatos breves, de contos independentes.
De qualquer maneira, são 25 histórias surpreendentes e cativantes de personagens desconcertantes.
Histórias para ler com os prazeres da surpresa e da emoção.
O livro retoma a tradição latino-americana de incorporar o imaginário como tema e método literário, sempre uma estratégia para escapar dos parâmetros obrigatórios da normalidade. Por meio de relatos como a torneira com vontade própria, o cortejo que leva o morto e o inoculado, o homem que foge por baixo da cidade, um tesouro de família da mãe que o pai não queria abandonar, a dona do quadro em que o marido da outra caiu e outros mais, O inseto friorento e o vento feral é um livro que trata da complexidade da vida sem a limitação de ater-se à pura fotografia da realidade. É uma obra em que a sensibilidade joga luz sobre nossa condição humana, no que há de grandeza e vilania, alegria e sofrimento, sonho e desânimo, amor e violência.
É um livro sobre gente, mesmo quando fala de coisas e bichos. O inseto friorento e o vento feral tirou esse nome de um poema de Castro Alves, Sub tegmine fagi:
E a terra é como o inseto friorento
Dentro da flor azul do firmamento.
(…)
Onde na arcada gótica e suspensa
Reza o vento feral.
Mais um lançamento de qualidade editorial e gráfica da Categoria.
Este produto será lançado em 21 de outubro de 2022.
Conheça os 25 relatos do livro O inseto friorento e o vento feral
- A escada caprichosa: cair de escadas é uma arte. Ele decidiu correr mundo em busca de escadas para cair delas.
- Juan às onze: na sangrenta guerra civil, outra guerra ainda mais cruel junta e separa os dois inimigos.
- Fui: o velho ator, a memória do público e as homenagens.
- Vazamento: uma pia não pode ter vontade própria? Então, diga isso a ela.
- Areia: debaixo da cidade, pelas entranhas, ele foge dos outros. De quem mais?
- Comportamento estrito: quem manda na história – os personagens ou o autor?
- O inseto friorento e o vento feral: na paisagem desolada, quem é o predador?
- Embicados: são dois ou apenas um? Onde viemos parar?
- Hoje que o fuzilamento foi ontem: depois do dia de seu fuzilamento, que mais podia fazer Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski?
- O puro Rigoberto: Céu, Inferno e Purgatório. A cada um, segundo seu merecimento.
- O roubo: uma caçada reúne pai e filho. E a caça.
- Os papagaios: os homens e suas coroas animadas de papagaio verde.
- Cativak da Encosta: uma expedição perigosa e incerta precisa encontrar de volta o caminho da civilização.
- A uva: o bobo, as rainhas e o que elas merecem.
- Como acabam as loucuras: quem é o namorado dela? A cidade ficou maluca?
- A ponta: os plecs insubordinados.
- Carapanã: o cortejo que leva o morto e o inoculado.
- O tiro: os forasteiros chegaram. E agora? Vamos deixar que façam o que vieram fazer?
- A dona da galeria: uma pintura soberba, um homem curioso e a dona da galeria.
- As palavras do conto: que ebulição é essa?
- Venha logo: a filha que ele desconhecia. E que ele ama desesperadamente.
- O cacho de ouro: um tesouro de família e a mãe que o pai não queria abandonar.
- Sabático e vespertino: o amor sem fim de Glênio por Catarina.
- Ring, ring: toca, telefone. Toca!
- Jogo de futebol: afinal, quem ganhou aquela partida tanto tempo faz?